Chegada de Tomé de Souza à Bahia - Gravura do Sec XIX |
Durante quase 50 anos, as terras do Brasil permaneceram administradas à distância, não havendo no país um cargo específico para o controle político das terras brasileiras . Em 1549 foi finalmente criado o Governo-Geral com a chegada de Tomé de Souza e a construção de Salvador, a sede do Governo. Contrariando a opinião de alguns autores, Tavares (1987) afirma que o Governo-Geral não foi criado para substituir as Capitanias, mas para conservá-las. Portanto, não havia substituição, mas sim a criação de um centro político, administrativo, militar, judiciário e fiscal.
Segundo regimentos próprios o Governo-Geral deveria promover a segurança militar no litoral, administrar a cidade de Salvador, cobrar dízimas e redízima devidas ao rei em todas as Capitanias, fiscalizar os deveres dos donatários e dos colonos para com o rei, julgar os delitos civis e penais. Segundo Alencar (1981) o Governo-Geral deveria combater tribos rebeladas aliando-se a outras e promovendo adversidades entre elas, realizar entradas em busca de riquezas minerais, desenvolver a construção naval e estimular a catequese.
Para o Governo-Geral foram criados os cargos de Governador-Geral, Ouvidor-Geral, Provedor-Mor da Fazenda e Capitão-Mor da Costa. Também foi instituída a Casa da Câmara composta de membros indiretamente eleitos ou nomeados. Em 1646 passou a denominar-se Senado da Câmara.
A organização política do Brasil se deu, inicialmente, em três sucessivos Governos-Gerais, que foram:
Primeiro Governo
Em 7 de janeiro de 1549 foi nomeado o fidalgo Tomé de Souza para exercer por três anos a função de Governador-Geral do Brasil com os títulos de Governador das Capitanias e terras da Bahia e Governador das Capitanias e terras do Brasil. Com ele vieram em torno de 1000 pessoas entre colonos e funcionários subalternos da Coroa e religiosos da Companhia de Jesus chefiados pelo Padre Manuel da Nóbrega. Inicialmente, Tomé de Souza e sua gente ocuparam a Vila do Pereira mas,logo foi construída a cidade do Salvador, primeira ação do Governador-Geral, para onde a população foi deslocada.
Ainda durante o primeiro Governo-Geral foi criado o bispado de Salvador, o primeiro do Brasil que teve como titular o bispo D. Pero Fernandes Sardinha. Em 1551 foi introduzido no Brasil o gado trazido de Cabo Verde e a pecuária aliou-se à cultura da cana e do algodão nas sesmarias concedidas por Tomé de Souza.
Segundo Governo
Duarte da Costa, segundo Governador-Geral, chegou ao Brasil em 13 de junho de 1553, trazendo mais alguns jesuítas como Jose de Anchieta. Este governo caracterizou-se pela desarmonia existente entre membros do governo, jesuítas e colonos. No entanto, foi no segundo Governo de Duarte da Costa que se efetuou a conquista do Recôncavo cujas terras férteis de massapé impulsionaram ainda mais a produção de cana-de-açúcar. Seu filho Álvares da Costa destacou-se na guerra contra os índios que não aceitavam o domínio europeu, sendo formada neste governo uma tropa regular e paga usada nas batalhas de extermínio.
Terceiro Governo
No ano de 1557, Men de Sá veio para o Brasil e iniciou o terceiro Governo-Geral. Sua administração durou quinze anos, contra sua vontade, pois solicitou sua volta para Lisboa, sempre adiada pelo rei de Portugal. Apoiou jesuítas na catequese de índios, mas ao mesmo tempo, promoveu o extermínio dos mesmos índios em guerras financiadas pelo seu Governo. Criou igrejas e concluiu a construção da Santa Casa de Misericórdia, mas suas ações não se limitaram a capitania da Bahia. Men de Sá foi responsável pela expulsão dos franceses que se encontravam desde 1555 na Bahia de Guanabara.
Trouxe para o Brasil 336 escravos africanos e moças órfãs para casarem-se com os colonos, agradando muito a igreja que condenava as ligações entre os europeus e as índias.
Com a morte de Men de Sá, foi Governador o Ouvidor-geral e Provedor-Mor, Fernão da Silva.
Quarto Governo
O quarto Governador-Geral, Luís Vasconcelos, faleceu antes de chegar à Bahia. Após esse fato, o rei bipartiu a administração das terras do Brasil e nomeou dois governadores. D. Luiz de Brito e Almeida, Governo-Geral de Bahia, Ilhéus, Pernambuco e terras mais ao norte; e D. Antonio de Salema, Governo-Geral de Porto Seguro, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Vicente e terras mais ao Sul. Nesta nova situação houve a nomeação de muitos para ocuparem os cargos do Governo, agora em dobro. Em 12 de abril de 1577 Lourenço da Veiga foi nomeado Governador-Geral e as terras e a administração foram unidas outra vez. Esta medida reduziu os gastos e o número de funcionários em muito aumentados por causa da divisão. Até a invasão dos holandeses foram os seguintes os Governadores-Gerais:
Diogo Lourenço da Veiga, D. Manuel Teles de Menezes que governou até 1587, D. Francisco de Sousa, Diogo Botelho que governou de 1602 a 1608, Diogo de Menezes quando se dividiu outra vez o Brasil em Norte e Sul, Gaspar de Souza e Luís de Sousa. Em 1624, durante o Governo de D. Diogo de Mendonça Furtado, Salvador foi invadida pelos holandeses, vencendo a resistência dos moradores que fugiram da cidade, mas voltaram diversas vezes para atacar e cada vez mais enfraquecer os holandeses. Em 1625, após um ano de dominação holandesa da cidade e transcorridas diversas batalhas, encontraram-se os holandeses isolados, sem comida e cansados. A chegada da ajuda dos espanhóis determinou definitivamente a rendição e saída dos holandeses da Bahia. Houve posteriores tentativas de tomar de assalto a cidade de Salvador, mas todas sem sucesso.
No século XVIII a estrutura político-administrativa voltada para os interesses da colônia e orientada pelo pacto colonial conflitava com os interesses da população da capitania da Bahia. Por tais motivos houve diversos conflitos entre colonos e a colônia que, no quadro nacional da história, não receberam devida valorização, mas que tiveram grande importância para a organização dos colonos em direção à Independência. Alguns conflitos não apontavam a condição de colônia como promotora da difícil situação em que se encontravam os colonos do Brasil, outros apontavam a independência como única maneira de resolver a situação.
Desta forma, alguns importantes movimentos foram precursores da independência da Bahia e do Brasil. Em 1711, o Motim do Maneta, o Motim de Dezembro e o Levante do Terço Velho apresentavam uma insatisfação da população para com a situação de domínio e pobreza em que se encontrava a cidade de Salvador e a capitania de modo geral. O primeiro e mais importante protestava contra os valores dos artigos importados e contra os altos impostos que eram obrigados a pagar para manter a segurança da colônia e as regalias da metrópole. No entanto, ainda não se cogitava na Bahia as idéias de separação entre Brasil e Portugal.
De 1794 a 1798 ocorreu o movimento denominado Conjuração dos Alfaiates, Inconfidência Baiana, Sedição dos Mulatos entre outros nomes. O movimento caracterizou uma das mais importantes manifestações anticoloniais do estado e do país no século XVIII. Influenciados pelas idéias iluministas, os baianos queriam a República na qual todos seriam iguais perante a lei, não importando a cor, e o poder originasse do povo. No estado em que mulatos e negros predominavam em número, apenas os europeus possuíam o poder de decisão e ocupavam os altos cargos. Em contrapartida, eram os mulatos e pobres os mais cobrados pela coroa que exigia cada vez mais e maiores impostos.
Este movimento caracterizou-se por 11 boletins chamados sediciosos, manuscritos e colocados em pontos centrais da cidade em 12 de agosto de 1798. Os revolucionários reivindicavam a igualdade de direitos sem distinção de cor e equivalência entre colônia e metrópole, exigindo que o porto de Salvador fosse aberto para que o Brasil pudesse comercializar livremente com todos os países do mundo e não apenas com a metrópole.
Denúncias contra os sediciosos levaram a prisão e morte de diversos baianos em várias ações de repressão. A abertura dos portos do Brasil e da Bahia se deu em 28 de janeiro de 1808, através do chamado Decreto de Abertura dos Portos do Brasil e permitiu livre comércio dos baianos com todos os povos do mundo. Isso aconteceu quando o Príncipe D. João já estava refugiado no Brasil, fugindo dos franceses que tomaram Lisboa.
Segundo diversos autores como Alencar (1981) a atitude do rei nada tinha a ver com as exigências dos brasileiros, mas sim com as exigências da Inglaterra que desejava explorar o crescente mercado das colônias portuguesas. Portugal devia à Inglaterra a proteção que recebeu durante a fuga para o Brasil. A presença da família real no Brasil proporcionou à Bahia outros benefícios como a criação da Escola Médico-Cirúrgica, posterior Faculdade de Medicina da Bahia, a criação da Companhia de Seguros Comércio Marítimo e a resolução favorável à existência de indústrias na colônia.
O movimento chamado Pronunciamento de 10 de fevereiro de 1821 marcou a adesão da Bahia ao movimento liberal-constitucionalista instalado na Europa e que determinou a Revolução Constitucional de 1820 no Porto e em Lisboa. Na Bahia, ele foi liderado de dentro da prisão do Aljube, pelos prisioneiros políticos da Revolução de 1817, que foi pouco expressiva na Bahia, mas importante em Recife. O movimento evidenciava o desejo dos baianos em participar da formação da Constituição que regiria os destinos de Portugal e suas colônias e que poderia permitir a instituição de direitos para a Capitania e deveres para a metrópole.
Na Câmara Municipal de Salvador, por determinação do governador Conde de Palma pressionado pelos baianos, foi constituída a Junta Provisória de Governo da Província da Bahia, composta de representantes das principais camadas da sociedade: igreja, comércio, exército e agricultura. Embora liberal, o movimento pela Constituição ainda adotava compromisso de subordinação a Portugal, o que desagradava muito os revolucionários de 1821 que clamavam a independência. Isso ficou claro quando a junta jurou obediência à Coroa e à igreja católica como também à constituição que a Corte elaborasse.
Deputados baianos foram escolhidos para participarem, na Corte, da elaboração da Constituição para o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, por eleição indireta no dia 3 de setembro de 1821. Ao chegarem a Portugal os deputados baianos encontraram a discussão para a futura Constituição em pleno andamento colocando-os em divergência imediata com os portugueses. Os representantes brasileiros (baianos, pernambucanos e paulistas) reivindicavam autonomia para o Brasil enquanto os portugueses desejavam retrocesso de concessões como a abolição do livre comércio.
Vários movimentos e manifestações a favor da Independência da Bahia e do Brasil ocorreram em Salvador e no Recôncavo, tendo sido sempre reprimidos pelos Portugueses que ainda tinham o poder militar na Bahia. As Câmaras das cidades do Recôncavo proclamavam a formação de um centro do Poder Executivo no Brasil exercido por D. Pedro, já aclamado no Rio de Janeiro como Defensor Perpétuo e Constitucional do Brasil. Mas a força militar impedia as sessões da Câmara e reprimia com prisões as manifestações do povo.
Aos poucos os conflitos tornaram evidente a aproximação da independência não só do estado mas de todo o Brasil. Alguns fatos importantes antecederam a independência como a Batalha do Pirajá travada na área de Cabrito-Campinas-Pirajá foi a maior demonstração de resistência militar pela independência no estado da Bahia. Foram oito horas de luta armada entre os soldados baianos e os portugueses que resultou na morte de vários soldados brasileiros e lusitanos. Vários episódios de batalhas e conflitos antecederam o episódio conhecido pelo nome de Libertação da Bahia. Ilhados na cidade do Salvador, os portugueses sofriam com a falta de gêneros básicos para a sobrevivência como comida e água.
Todo o entorno da cidade já estava ocupado pelos soldados baianos que impediam os portugueses de saírem da cidade ou de entrar nela qualquer pessoa ou suprimento. No dia 1º de julho, cansados, com fome e sede, os portugueses começaram a abandonar a cidade. Embarcaram em navios mercantes ou de guerra soldados, oficiais e mesmo as famílias portuguesas, na maioria comerciantes que permaneceram na cidade. Enfim, no dia 2 de julho de 1823 entrou na cidade o exército brasileiro, marcando a Independência da Bahia. Neste dia consolidou-se a separação política entre Brasil e Portugal, deixando de haver um ponto de apoio para os portugueses vindos da Europa para lutar pela Monarquia portuguesa.
A partir de então, um período Monárquico Constitucional Unitário instalou-se também na Bahia. Em 2 de julho o príncipe D.Pedro tornou-se Imperador da Bahia, mas na verdade, já era Imperador do Brasil desde 12 de outubro de 1822 e já havia uma Assembléia Constituinte no Rio de Janeiro. Como no episódio da Carta Constitucional Portuguesa, a Bahia estava atrasada, desta vez no processo de independência do país.
As províncias ainda não estavam sob um só governo executivo, mas com a Independência da Bahia, a independência e a consolidação do Império do Brasil tornou-se viável. No entanto também nesse período alguns conflitos e manifestações importantes ocorreram na Bahia. Ordens do Imperador D.Pedro, como a transferência do Sargento-Mor Silva Castro, importante oficial na luta pela Independência da Bahia, para o Rio de Janeiro, evidenciavam uma tendência do império em centralizar as decisões e as ações no Rio de Janeiro. Algumas províncias como Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Rio Grande do Norte e Ceará desligaram-se do poder executivo central estabelecido no Rio de Janeiro, era a Confederação do Equador que pretendia liberar as províncias das ordens do Rio.
A Bahia se dividia entre obedecer irrestritamente o Imperador ou desligar-se como outros estados do Nordeste do país. O levante do Terceiro Batalhão (Periquitos), batalhão do qual fez parte Maria Quitéria nas lutas pela independência, evidenciava o descontentamento dos baianos em relação à administração do Imperador D.Pedro I e chegou a beirar uma guerra civil entre adeptos e contrários à Monarquia. Já haviam então rumores sobre a República.
Para manter a submissão da Bahia à sua autoridade, D.Pedro I visitou rapidamente a província e, com discursos e audiências, tentou manter os ânimos frios e controlados, dando a falsa impressão de preocupação com os interesses baianos. No entanto, sua política tendenciosa que beneficiava Portugal e a Inglaterra com o mercado e o dinheiro brasileiros, só causava desconfiança e temor na população baiana. Nos anos seguintes de 1829, 1830 e 1831 sucederam-se diversos conflitos entre brasileiros e portugueses, principalmente na cidade de Salvador e nas vilas de Cachoeira e Santo Amaro.
Havia, então, um sentimento anti-lusitano que estimulava que estimulava conflitos dentre os quais aquele conhecido como Mata-Maroto, que resultou na substituição do Presidente da Província da Bahia e do Governador das Armas, todos portugueses e sua substituição por representantes brasileiros, baianos.
Estes conflitos passaram com algum tempo, a criticar diretamente ao regime Monárquico Constitucional Unitário instalado no Brasil e passaram a sugerir o federalismo que permitiria autonomia às províncias, antes que D.Pedro I tentasse reunificar Portugal e Brasil num novo Reino Unido, como desconfiavam alguns baianos. A Revolução Federalista de 1832 e 1835 definiu-se com a deposição de D.Pedro em 7 de abril de 1831.
No entanto, apenas em 1832 foi proclamada a Federação da Província da Bahia e formado um Governo Provisório o qual não se subjugava mais às ordens do Rio de Janeiro e pretendia reformular leis contrárias ao federalismo na Bahia após a formação de uma Assembléia Constituinte Legislativa Provincial. Tais transformações, no entanto, não tinham o aval do governo da província baiana que reprimiu o movimento com armas e prendeu os federalistas mais importantes, enfraquecendo o movimento.
No entanto, o movimento federalista não findou na Bahia. Ao contrário, deu vazão à revolução conhecida como Sabinada, de grande importância para a história da Bahia e do Brasil. Era um movimento federalista que pedia revisão da Constituição de 1824 e a descentralização política sem desligar-se do poder executivo central no Rio de Janeiro. A Sabinada já apresentava inclinação ainda pouco definida para a República.O levante de 7 de novembro marca o começo do aspecto militar da Sabinada, já que a revolução teve início muito antes com a publicação das idéias revolucionárias. O levante do Forte de São Pedro de 7 de novembro de 1837 iniciou uma série de conflitos que culminaram com a formação de um governo baiano desligado do Governo Central do Rio de Janeiro.
No entanto, o movimento baiano não estimulou a adesão de outras províncias e ainda desagradou aos grandes proprietários do Recôncavo que investiram contra os chamados sabinos. Sem apoio a Sabinada limitou-se ao estado livre e independente da Bahia até a maioridade de D.Pedro II, que corria sérios riscos de perder o trono.
Segundo Tavares (1987) o movimento tornou-se contra a submissão administrativa e política da Bahia ao Rio de Janeiro, a centralização. No entanto, não se opunha a Monarquia Constitucional nem ao Príncipe D.Pedro II. Era contra o trabalho escravo, mas não obteve conquistas neste campo. Teve seu fim com a retomada do controle de Salvador pelo exército do Imperador, controle esse que perdurou até depois da maioridade de D.Pedro II, evitando maiores conflitos tão comuns na província. A Sabinada foi a última revolução armada da Bahia até o movimento republicano no qual ressurgem ideais federalistas.
Segundo alguns autores, o federalismo de Rui Barbosa foi o que mais caracterizou e animou a política na Bahia, na última década do Império. Neste fim de século, um dos maiores problemas do Brasil era encontrar um regime que garantisse a unidade do país. Embora D.Pedro tentasse manter o Império a todo custo, seus esforços e dos monarquistas só popularizavam as idéias republicanas e a proclamação da República torna-se cada vez mais próxima.
Organizaram-se no estado três partidos políticos, dois antigos o Conservador e o Liberal e um novato e pouco representativo, o Republicano que embora defendesse as idéias republicanas, tinham pouca representação no estado e pouco decidiam sobre os rumos da República a ser proclamada. Apenas na noite de 15 de novembro de 1888, Salvador conheceu os acontecimentos, que na manhã do mesmo dia, levaram a Proclamação da República no Rio de Janeiro.
A notícia foi recebida através de um telegrama de Rui Barbosa, então Ministro da Fazenda do Governo Provisório. Além de informar sobre as novas da capital do país, o telegrama nomeava Manuel Victorino Pereira o Governador do Estado da Bahia. Houve em Salvador demonstrações desaprovação e reprovação por parte dos representantes políticos e militares da Bahia. Os nomes importantes da cidade se dividiram entre os que aderiam a República e os que juravam obediência à Coroa e ao Rei, como faziam há anos.
Ironicamente, era do Comandante das Armas Marechal Hermes Ernesto da Fonseca, irmão mais velho do Marechal Deodoro da Fonseca, chefe militar do movimento republicano no Rio de Janeiro, a liderança do movimento monarquista em Salvador. Hermes da Fonseca, junto ao ex-presidente da Província da Bahia, decidiu continuar acatando as ordens do Imperador e desacatar as ordens do Governo Provisório, que já havia indicado um Governador para o recém proclamado Estado da Bahia.
Líderes militares como Christiano Buys do grupo dos republicanos, tentavam adesão suficiente da população e dos representantes políticos para a Proclamação da República na Bahia, promovendo diversos pequenos conflitos na cidade do Salvador. O Governador nomeado Manuel Victorino recusou-se a se envolver nesses conflitos e, mesmo sem sua presença, mas já com o apoio do Marechal Hermes Ernesto da Fonseca o Coronel Buys proclamou a República na Bahia somente no dia seguinte a proclamação no Rio de Janeiro. Ocorreu as seis horas da arde do dia 16 de novembro de 1888, no Forte de São Pedro.
Mas o estado permaneceu sem governador até o dia 18 de novembro quando, às 13 horas Virgílio Damásio foi empossado Governador do estado da Bahia. Damásio, que teve papel atuante no processo da proclamação, permaneceu no cargo até o dia 23 de novembro quando, em obediência ao Governo Provisório, passou o cargo ao médico e político Manuel Victorino. Por ter sido sempre liberal, Victorino surpreendeu a todos quando se uniu a políticos do Partido Conservador, propondo mudanças no sistema de saúde e educação, desagradando os liberais e os republicanos. Esses últimos promoveram o movimento que levou a renúncia de Victorino no dia 23 de abril de 1890.
Ao contrário do que imaginaram os republicanos, a renúncia resultou na posse do Marechal Manuel Hermes Ernesto da Fonseca como governador e na ascensão do grupo conservador do qual participavam Luiz Vianna, José Marcelino de Souza, José Gonçalves Dias e Satyro de Oliveira Dias. Isso demonstrou que os liberais e os conservadores, grandes fazendeiros do Recôncavo e do Sertão, realmente detinham o poder, enquanto os novatos republicanos eram pouco representativos. Os liberais e os conservadores elegeram a maioria dos representantes da Assembléia Constituinte e o primeiro governador republicano do Estado da Bahia, José Gonçalves da Silva.
Em novembro de 1891, devido às manifestações de insatisfação de alguns setores da sociedade baiana, o Marechal Deodoro da Fonseca dissolveu o Poder Legislativo demonstrando autoritarismo que foi renegado e combatido na Bahia, principalmente por representantes militares, sempre envolvidos nos movimentos revolucionários e contra o governo do estado.
Após diversas mudanças no governo do estado, finalmente o Partido Republicano da Bahia conseguiu consolidar-se e eleger, em 1892, por voto direto, o Governador Joaquim Manuel Rodrigues que comandou o Estado até 1896, quando o Conselheiro Luiz Vianna tornou-se Governador. Foi no mandato de Luiz Vianna que ocorreu o episódio conhecido na história do Brasil como Guerra de Canudos. O povoado de Canudos surgiu sob a liderança religiosa do beato Antonio Conselheiro, Antonio Vicente Mendes Maciel, um homem exótico,de cabelos e barba sempre grandes e vestindo uma longa bata azul. A cidade abrigava uma grande quantidade de fiéis, ex-escravos, índios e todo tipo de excluídos que encontravam apoio e acolhida em meio às difíceis condições do sertão nordestino. O lugarejo foi formado na Região da Serra do Cambaio e do Vale do Rio Vasa-Barris. A comunidade se fundamentava em ideais puramente religiosos, mas acabou representando ameaça à Monarquia por rejeitar ordens legais como o casamento civil e o registro em cartório dos recém-nascidos.
Além disso, a comunidade cresceu muito rapidamente e não podia ser controlada pelas autoridades republicanas, pois o povo de Belo Monte só obedecia as ordens do beato Conselheiro, espécie de porta-voz de Deus na terra. Conhecendo os perigos de não seguir o regime, Belo Monte sempre esteve preparada para possíveis ameaças de invasão já que possuía um grande arsenal de rústicas armas de fogo.
Várias tentativas de acabar com a suposta conspiração monarquista instalada em Canudos realizadas pelas forcas armadas brasileiras falharam, mas exterminaram aos poucos os 25 mil habitantes do povoado. Em 5 de outubro de 1897. uma quinta expedição conseguiu exterminar os moradores do povoado que ainda resistiam heroicamente. Em 22 de setembro de 1897 morreu Antonio Conselheiro.
Segundo Antonio Olavo (site) a guerra de Canudos foi um massacre sem precedentes no Brasil de milhares de pessoas que nada tinham de subversivas e apenas defendiam sua fé e seus princípios. Durou um ano e mobilizou mais de 10 mil soldados de 17 estados brasileiros culminando com a destruição irracional da cidade. De 1896 a 1912 diversos fatos acompanharam as mudanças de governadores da Bahia. Foi no mandato de Severino Vieira, sucessor de Luiz Vianna, que o Partido Republicano da Bahia se dividiu e originou o Partido Republicano Dissidente no mandato seguinte, o de José Marcelino de Souza. Os dissidentes apoiavam J.J. Seabra para a sucessão no governo do estado, sendo chamados de seabristas.
Na primeira década do século XX as dissidências em questões políticas eram evidenciadas nos diversos grupos que surgiram, cujos nomes mostravam a preferência para a sucessão no governo do estado. Eram os vianistas, severinistas, seabristas cujas divergências levaram ao grave episódio do bombardeio de Salvador no dia 10 de janeiro de 1912, no mandato de João Ferreira de Araújo Pinho. Segundo Tavares (1987), forcado a renunciar, o governador Araújo Pinho transmitiu o governo a seu substituto legal, Aurélio Vianna, que foi recusado pela maioria da Câmara Estadual. Em represália, o prédio da Câmara foi fechado e a capital do estado transferida para Jequié. Houve briga judicial que favoreceu os vereadores, no entanto, a decisão legal de liberar a Câmara não foi aceita pelo Governo do estado. A reação militar foi imediata e no dia 10 de janeiro, os Fortes de São Pedro e do Barbalho canhonearam o centro da cidade por 4 horas causando grandes estragos às construções do local.
O bombardeio causou não só muitas confusões e estragos para a população, mas também, muitas confusões políticas em todo o estado e até para o Presidente, Marechal Hermes da Fonseca. Na Bahia resultou na eleição para Governador do Estado vencida por J.J. Seabra, dezesseis dias depois do bombardeio.