Barco de fogo - Estancia-Se

O Barco de Fogo e sua importância cultural para o São João de Sergipe

A primeira tentativa na criação  do ‘Barco de Fogo‘ começou com a experiência de uma espada correndo em um fio de arame rígido. Depois criou-se um barquinho de papelão com espadas fixadas e em seguida, Chico Surdo conseguiu ornamentar o barquinho, pendurando-o num fio de arame para que fosse deslizando. Nesse momento que ele percebeu que a idéia era muito interessante.

Patrimônio cultural do povo sergipano

O Barco de Fogo é um bem histórico cultural produzido de forma artesanal, no qual apresenta um belíssimo espetáculo de luzes e cores – tradicionalmente criado e apresentado nos festejos juninos da cidade de Estância, a 64 km da capital Aracaju, mas, atualmente, após ser reconhecido como patrimônio cultural do povo sergipano, através da Lei 7.301/2011, tornou-se de uma grande importância  a nível Estadual. Inclusive, faz parte do monumento inaugurado recentemente pelo Governo do Estado na capital Aracaju, conhecido como “Largo da Gente Sergipana” – onde entre várias exaltações da cultura popular de Sergipe, está o Barco de Fogo. É uma belíssima alegoria pirotécnica artesanal, coberto de bandeirolas coloridas, carregado com espadas e tabocas recheadas de pólvora e fogos de artifícios que ilumina o céu estanciano com luzes, cores e sons foguetórios. Seu movimento de vai e vem preso a um arame faz um  percurso que varia entre 100 e 300m, mais ou menos.

Exppsição do Barco de Fogo - Foto: Marcio Garcez
Exppsição do Barco de Fogo – Foto: Marcio Garcez

História do seu criador

Esse belíssimo bem cultural foi criado por volta dos anos 30, através do seu criador Francisco da Silva Cardoso conhecido por ‘Chico Surdo’ (In memorian), um dos mais importantes fogueteiros estancianos. Relata a história que Chico Surdo era um funcionário público e exerceu a profissão de jardineiro em Estância com muito talento, conforme evidenciado em suas esculturas criadas nas árvores dos jardins da Cidade. Sempre que podia costumava sair de barco para pescar e aspirava ser um marinheiro, contudo, devido à deficiência auditiva que o acometeu ainda na sua plena juventude não pode realizar seu sonho. Daí passou a ser apelidado de “Chico Surdo”. Ele era uma pessoa bastante animada e gostava muito de festas, principalmente, dos festejos juninos – sua verdadeira paixão -. Era durante o período junino que se dedicava à fabricação de fogos de artifícios e de sua mais importante criação o ‘Barco de Fogo’.

Criação do ‘Barco de Fogo’

A primeira tentativa em criar o ‘Barco de Fogo’ começou pela experiência com uma espada correndo em um fio de arame rígido. Depois  criou-se um barquinho de papelão fixando as espadas e em seguida Chico Surdo conseguiu ornamentar o barquinho, pendurando-o num fio de arame para que fosse deslizando. Nesse momento percebeu que era uma idéia muito interessante. A partir daí, com a criatividade que lhe era peculiar, percebeu que o papelão era leve demais e na sua mente criativa imaginou uma estrutura que o deixasse no peso ideal, dando origem então ao ‘Barco de Fogo’.

Barco de fogo aguardando a apresentação - Foto: Ana Lucia
Barco de fogo aguardando a apresentação – Foto: Ana Lucia

Embora não se tenha a precisão exata de quando iniciou a produção do barco de fogo, esse bem se tornou uma tradição que se arrasta por várias décadas, passando de geração em geração. A experiência na confecção do barco de fogo é tradicional em Estância e bem familiar; pela qual os pais vão passando o conhecimento da produção de fogos para os seus filhos e parentes próximos; como também, àqueles que estejam no meio e tenham interesse por sua produção. Na fabricação desses bens culturais, ocorrem diversos processos que vai desde a aquisição da taboca, corte do bambu, exposição do mesmo ao sol,  entre tantos procedimentos que envolvem a parte estética ao formato do busca pé ou espadas, de onde se origina a fabricação do barco de fogo e até mesmo às vezes em formato de um avião.

Os profissionais Fogueteiros:

Para ser considerado um fogueteiro profissional, deve-se obrigatoriamente saber fazer praticamente tudo relacionado aos fogos de artifícios: Da retirada do bambu nas matas à fabricação da pólvora e o modo como ela é pisada e manuseada. O primeiro passo é começar como ajudante, até adquirir experiência e se tornar um profissional do ramo. A exigência está na capacidade, no compromisso e principalmente, na responsabilidade em lidar com algo tão delicado e perigoso como a pólvora -, conforme explicações  do ex-presidente da Associação de Fogueteiros e Barqueiros de Estância, Valdivino Menezes Neto, considerado como um dos mais experientes  fogueteiros de Sergipe. Hoje existem duas associações de fogueteiros em Estância, as quais possuem dezenas de profissionais associados que são submetidos a testes para então ser deferida sua aprovação, conquistando o direito de se filiar a qualquer uma das Associações.

Dia oficial do ‘Barco de Fogo’ 

O dia 11 de junho é uma data muito importante para o estanciano, onde tradicionalmente é comemorado o dia do ‘Barco de Fogo’, cuja data serve para reverenciar o seu maior criador, Chico Surdo. As datas que tradicionalmente acontecem a soltura dos Barcos de fogo são na véspera e noite de São João,  contudo,  na cidade de Estância os festejos são de praticamente 30 dias a partir do dia 31 de maio, onde se comemora a Salva ­– abertura dos festejos juninos – e vai até o ultimo dia do mês de junho, quando se comemora o São Pedro. Durante esse período quem visitar a cidade de Estância terá a oportunidade de ver o Barco de Fogo quase todas as noites, iluminando o céu da cidade – incluindo apresentação de grupos folclóricos, apresentação das espadas e soltura de busca pés. Apesar de ser uma tradição de Estância o Barco tornou-se conhecido em várias cidades do Estado e já teve quem o levasse para apresentar em outros Estados do Brasil.

Exposição do Barco de Fogo - Foto: Infonet
Exposição do Barco de Fogo – Foto: Infonet

Concursos do Barco de Fogo

No mês de junho durante o período das festas juninas acontecem diversos concursos na cidade e o Barco de Fogo não poderia ficar de fora. Então foi criado, também, o concurso do Barco de Fogo que acontece na Praça Barão do Rio Branco ou no Forrodromo de Estância, a depender da logística de cada administração municipal. Os critérios para se julgar o melhor Barco de Fogo é: Decoração, velocidade, sendo que nesse quesito o barco deve ir e voltar ao ponto de partida, sem parar no meio do percurso; devem-se pontuar, também, as mais belas flores de fogos que são expelidas durante o glorioso trajeto. Esses critérios devem ser analisados por uma mesa de corpo de jurados composta de personalidades importantes do estado e entendidas do assunto.

Busca-pé o Coadjuvante

Uma das tradições de Estância também é um importante coadjuvante, sua excelência o ‘Busca-Pé’, onde sua majestade o ‘Barco de Fogo’ está ligado diretamente.  Não há ‘Barco de Fogo’ sem a participação do Busca-Pé! Esses incríveis artefatos são feitos de bambu, o qual é secado, em seguida, cozido e enxuto as tabocas. Posteriormente a parte externa é totalmente e firmemente enrolada com cordão, coloca barro e pólvora e para finalizar, deixar bem compactado.

Apresentação de espadas e Buscapé- Foto: Parabólica News
Apresentação de espadas e Buscapé- Foto: Parabólica News

O processo de criação tem inúmeras etapas e, segundo os fogueteiros, há uma diferença importante na criação desses artefatos: O ‘Buscapé’ tem o fundo fechado e possui pólvora para fins de estourar, enquanto que a ‘Espada’ não é explosiva. Com relação à forma de se utilizar esses artefatos é que a ‘Espada’ pode ser manuseada por qualquer pessoa, já o ‘Buscapé’, após ser aceso, deve ser utilizado por pessoas experientes, pois, o mesmo rodopia sozinho pelo ar e por final, estoura.

Até os dias atuais, fogueteiros e ajudantes trabalham coletivamente, preservando a tradição. A comunidade se envolve completamente em todas as fases da produção do ‘Barco de Fogo’ e o ‘Busca-pé’, desde o corte do bambu, para confeccionar as conhecidas tabocas, até as danças que adentram pela noite durante o pisa-pólvora.

O ‘Barco de Fogo’ foi reconhecido pelo Poder Público Estadual como patrimônio cultural do povo sergipano, através da Lei 7.301/2011 de autoria do então Deputado Estadual Gilson Andrade.

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Essa matéria teve a participação especial da jornalista Jussara Assunção

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